terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
...lágrimas...
Esse rio que goteja
suas águas
de alegria e tristeza
segue pelos sulcos
que o tempo talhou.
Também essas águas
de rio salgado
moldam a máscara,
Desenham o que sou...
Carlos Henrique Rangel
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Um dia destes faço um! Tenho saudades de não ter onde lavar as mãos depois de comer, de ter esquecido os copos plásticos e os guardanapos, de ter entornado o sumo de laranja no cesto e em cima do pão,...e de estar refastelada à sombra de uma qualquer árvore frondosa... um dia destes é ver-me de cesto e chapéu de palha!
Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill
eu não diria melhor...
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Nada nos falta, porque nada somos
Ao longe os montes têm neve ao sol,
Mas é suave já o frio calmo
Que alisa e agudece
Os dardos do sol alto.
Hoje, Neera, não nos escondamos,
Nada nos falta, porque nada somos.
Não esperamos nada
E temos frio ao sol.
Mas tal como é, gozemos o momento,
Solenes na alegria levemente,
E aguardando a morte
Como quem a conhece.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Se tivesse uma filha, acho que seria (quase) tal e qual a da foto...
quarta-feira, 25 de maio de 2011
SOBE O PANO
Onde se solta estrangulado grito
Humaniza-se a vida e sobe o pano.
Chegam aparições dóceis ao rito
Vindas do fosso mais fundo do humano.
Ilumina-se a cena e é soberano,
no palco, o real oculto no conflito.
É tragédia? É comédia? É, por engano,
O sequestro de um deus num barro aflito?
É o teatro: a magia que descobre
O rosto que a cara do homem cobre,
E reflectidos no teu espelho - o actor -
Os teus fantasmas levam-te para onde
O tempo puro que te corresponde
Entre horas ardidas está em flor.
Natália Correia
terça-feira, 24 de maio de 2011
um dia...
um dia, quando me for embora, não quero deixar para trás senão pétalas. Quero deixar amor na memória, mas daquele amor que faz com que as pessoas sejam melhores e mais felizes...não quero que me lembrem com saudade, com dor, com mágoa; quero que me lembrem num sorriso de alegria ao recordar o meu nome, o meu sorriso, algumas das minhas palavras (tantas vezes disparatadas!), do coração que trago no peito, da força que me vem de dentro, dos caminhos que traço ora com arado ora só com as minhas mãos...e desta vontade imensa de espalhar sementes de ser.
nah! hoje não estou depressiva e muito menos dramática. Hoje estou assim num sossego de lume brando.
Entre o Luar e a Folhagem
Entre o luar e a folhagem,
Entre o sossego e o arvoredo,
Entre o ser noite e haver aragem
Passa um segredo.
Segue-o minha alma na passagem.
Tênue lembrança ou saudade,
Princípio ou fim do que não foi,
Não tem lugar, não tem verdade.
Atrai e dói.
Segue-o meu ser em liberdade.
Vazio encanto ébrio de si,
Tristeza ou alegria o traz?
O que sou dele a quem sorri?
Nada é nem faz.
Só de segui-lo me perdi.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
A Mulher Mais Bonita do Mundo
estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
segunda-feira, 23 de maio de 2011
As Horas pela Alameda
As horas pela alameda
Arrastam vestes de seda,
Vestes de seda sonhada
Pela alameda alongada
Sob o azular do luar...
E ouve-se no ar a expirar -
A expirar mas nunca expira -
Uma flauta que delira,
Que é mais a idéia de ouvi-la
Que ouvi-la quase tranquila
Pelo ar a ondear e a ir...
Silêncio a tremeluzir...
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Hoje sinto-me pequenina. Pequenina demais para entender.
Por vezes surge uma vontade enorme de transformar o meu mundo, pintá-lo de cores como uma manta de retalhos...de seguir, ignorando os sinais de stop, cantar, rodopiar, dançar,... e ser feliz em mim e por mim! Apenas por mim!
...mas no meu mundo não sou apenas eu...
...sou eu e os meus medos, eu e os meus sonhos e desejos...
Olha Maria
Olha, Maria
Eu bem te queria
Fazer uma presa
Da minha poesia
Mas hoje, Maria
Pra minha surpresa
Pra minha tristeza
Precisas partir
Parte, Maria
Que estás tão bonita
Que estás tão aflita
Pra me abandonar
Sinto, Maria
Que estás de visita
Teu corpo se agita
Querendo dançar
Parte, Maria
Que estás toda nua
Que a lua te chama
Que estás tão mulher
Arde, Maria
Na chama da lua
Maria cigana
Maria maré
Parte cantando
Maria fugindo
Contra a ventania
Brincando, dormindo
Num colo de serra
Num campo vazio
Num leito de rio
Nos braços do mar
Vai, alegria
Que a vida, Maria
Não passa de um dia
Não vou te prender
Corre, Maria
Que a vida não espera
É uma primavera
Não podes perder
Anda, Maria
Pois eu só teria
A minha agonia
Pra te oferecer
Chico Buarque
.
Em meia-luz sinto o que estou
[ainda não sei se sou
um meio sorriso inda que falso
um olhar cansado descobrindo limites
uma voz fraca a dizer e a coragem de dizê-lo
uma acumulação de pequenas memórias
num dia de cinzas.]
[Cercada de coisas estranhas produzindo versos na espera de um poema
vou me perguntando se somente em pedaços aprendemos a buscar todo o
desejado que caminha rumo a lugar nenhum,
dando duro sem reconhecimento,
sem me importar com o tamanho da ferida que passo a carregar]
[Eu sinto muito
por nada
por existirem palavras
por celebrarem a amizade
pela dificuldade de ser feliz
por sobreviver a cada pôr-do-sol
pela sensibilidade causada ao abrir a porta e partir.]
[Eu sinto muito
em algum momento
no mínimo momento
na insegurança
e no querer saber por que não há valor.]
[Eu sinto muito
por complicar aquilo que é simples
por aprender só depois de ter perdido quando poderia me apegar a tudo aquilo que sei
por olhar ao redor há horas com pura secura e não perceber uma coisa nem outra]
[Eu sinto muito
por ouvir minha própria voz
por não buscar outros sentidos
por saber que não existe um sentido
por ignorar os fortes gritos mais dóceis que o riso.]
(...)
É obscura a condição
mas há muito o que [caminhar
além dos olhos;
além do sentir;
além do amar;
além da necessidade de
Eu sentir muito.]
Flávia Dellamura
quinta-feira, 19 de maio de 2011
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII"
Heterónimo de Fernando Pessoa
terça-feira, 17 de maio de 2011
Eu Simplesmente Amo-te. Eu amo-te sem saber como, ou quando, ou a partir de onde. Eu simplesmente amo-te, sem problemas ou orgulho: eu amo-te desta maneira porque não conheço qualquer outra forma de amar sem ser esta, onde não existe eu ou tu, tão intimamente que a tua mão sobre o meu peito é a minha mão, tão intimamente que quando adormeço os teus olhos fecham-se.
Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"
terça-feira, 10 de maio de 2011
Já vi!
Já vi dias vazios, cinzentos
Já vi vidros partidos, incenso
Já vi inúmeras cores em lápis de cor.
Já vi.
Arco-íris,
Borboletas,
Bicicletas,
Pérolas,
Vasos quebrados, terra nas mãos e areias entre os dedos.
Já vi pássaros com os seus ninhos,
Já vi sorrisos de dor, de prazer, de fervor.
Já vi olhos perdidos, abraços apertados, sonhos desgarrados,
Mãos entre as mãos, beijos perdidos e toques vazios.
Barcos no mar, caravelas, açucenas,
Nuvens brancas e cinzentas,
Olhos tristes, bondosos, caprichosos,
Já vi rugas, folhas caídas, a lua,
Danças despidas, cabelos ao vento,
Vontades sedentas.
Estrelas cadentes, cristais e pedras preciosas,
Automóveis velozes,
Amigos sinceros,
Cinzeiros sujos, guarda chuvas molhados,
Pés inquietos,
Lagos com patos,…
...em contemplação.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
A Semeadora
A semeadora vai percorrendo os caminhos,
Simples
Segura
Valente.
Vai percorrendo e cruzando caminhos.
Vai em prol da sementeira!
A cada punhado de terra que encontra
Deixa ela a sua semente.
Aconselhando que o melhor será deixar a mão aberta
Para que nela se abata a chuva e nela irradie o sol.
Deixa. E seguindo o caminho
Leva no coração a esperança que quando estiver de volta
A sua semente tenha germinado.
E parte em prol da sementeira!
E segue.
Segue pelo caminho.
Com um sorriso que lhe acalenta o rosto.
Resoluta
Sincera
Audaz.
Segue a Semeadora
De sonhos
De amor
De paz.
Em prol da sementeira!
sexta-feira, 6 de maio de 2011
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